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Açores, Azores, Ilhas dos Açores, conhecer os Açores, visitar os Açores
Jane Memmott é professora de Ecologia em Bristol e lidera vários projectos de investigação em todo o mundo na área das espécies invasoras. Esteve no Museu da Ciência, em Coimbra, onde há uma exposição que alerta para o perigo da extinção das espécies
"Um escaravelho raro sentado sobre uma orquídea num vale remoto dos Andes poderá segregar uma substância que cura o cancro do pâncreas." A frase vai passando num ecrã pendurado numa das paredes do Museu da Ciência em Coimbra, onde, até Junho, se pode visitar a exposição A Diversidade da Vida, 300 Anos de Lineu. A proposição que soa tanto a hipótese científica como a enunciado poético pretende, tal como toda a exposição, sensibilizar para o perigo do desaparecimento de espécies em todo o mundo.
Foi no contexto desta exposição que a professora de Ecologia da Universidade de Bristol, Reino Unido, Jane Memmott esteve no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra (UC), para a conferência Problemas no Paraíso: espécies invasoras, sistemas complexos e biologia da conservação.
Em miúdos: a biodiversidade está em risco e, muitas vezes, a culpa é nossa - umas de forma acidental, outras, consciente. Nesta longa história de mortes de plantas e de animais também acontecem acasos infelizes, como quando, pouco depois da Segunda Guerra Mundial, uma espécie de cobra da Austrália foi transportada acidentalmente num navio para a ilha de Guam. O resultado foi uma praga responsável pela extinção de vários pássaros.
Já os restantes actos que sabemos terem consequências negativas para a biodiversidade não são novidade para ninguém: a caça, a poluição, a destruição de florestas.
Novidade é o modelo matemático criado por Jane Memmott que permite representar graficamente a complexidade das redes e cadeias naturais que nos circundam e que envolvem os insectos, as plantas nativas ou invasoras, os pássaros, as sementes, os predadores e as vítimas. O que ela conseguiu foi passar estas intrincadas e frágeis teias para o computador, reduzindo-as a um esqueleto, a um gráfico de linhas e cores. A ferramenta permite efectuar previsões, comparações entre territórios e, por fim, testar hipóteses no terreno, o que pode trazer grandes avanços à investigação na área.
Açores e Bristol
Jane Memmott lidera vários grupos de investigação em diferentes pontos do mundo, na área da Ecologia e das espécies invasoras, entre outras. Um dos estudos em curso pretende perceber a forma como a dispersão de sementes é afectada por plantas invasoras nos Açores. Neste projecto, está a trabalhar Ruben Heleno, um doutorando português de 26 anos que divide o tempo entre aquele arquipélago e Bristol.
Quando acabou o curso de Biologia em Coimbra, Ruben decidiu que queria seguir investigação. Um dia, sentou-se ao computador e começou a meter palavras no Google relacionadas com a sua área de estudo. Foi ter à página da Universidade de Bristol, depois a Jane Memmott, depois aos projectos de Jane Memmott e, quando dá por ele, já está a enviar um e-mail à professora e a obter uma resposta no próprio dia: ia para os Açores como doutorando orientado pela especialista de Bristol.
Quem também anda naquele arquipélago são os investigadores da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, com quem Ruben Heleno acaba por trocar informações. Tudo por causa de um pássaro chamado priolo (na ilustração), uma ave raríssima que existe apenas em S. Miguel e que está em perigo. Serão cerca de 200 a 400 os casais que habitam em certas zonas montanhosas da ilha, florestas ameaçadas por pastagens e produção de madeira.
O objectivo da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves é recuperar 300 hectares de floresta natural - 150 já estão - controlando a expansão das espécies exóticas e voltando a plantar espécies nativas. É preciso aumentar o habitat do priolo, limpando as zonas afectadas pela espécie invasora (criptoméria-do-japão).
74 mortes por dia
Desde há 100 anos que a principal causa de extinção de espécies é a destruição de habitats pela mão humana, explica o director do Museu de Ciência, Paulo Gama Mota, acrescentando que a segunda é o aquecimento global.
Apesar de esta ser a sexta maior fase de extinções desde o início do mundo - a "mãe de todas as extinções" aconteceu há mais de 250 milhões de anos -, ela deve-se, em grande medida, à nossa acção: às transformações do uso do solo, à poluição, às mudanças climáticas... De acordo com algumas previsões (em artigos da Nature e no livro A Criação - Um apelo para salvar a vida na terra, de E.O. Wilson, por exemplo), até 2050 poderão desaparecer 25 a 35 por cento das espécies.
Exemplos de animais que já não existem em Portugal? O urso-pardo. Desapareceu por caça excessiva. O lobo-ibérico continua em perigo, graças à destruição de bosques, à caça furtiva, ao atropelamento e ao envenenamento (há apenas 200 em todo o país). Igualmente em perigo, em vários países da Europa, está o cágado-de-carapaça-estriada, por captura ilegal para fins comerciais, poluição da água, incêndios...
Vinte e sete mil espécies desaparecem por ano, 74 por dia, três por hora... Na exposição do Museu da Ciência, há um vídeo que projecta mensagens sobre o que podemos fazer: andar a pé, usar transportes públicos, poupar água, reduzir a utilização de sacos plásticos, reciclar o lixo, evitar madeiras exóticas... Jane Memmott vai todos os dias de bicicleta para a faculdade. Diz que é "uma sortuda" por causa disso.
Fonte da notícia: PÚBLICO PT Etiquetas: animais, Espécies, extinção, investigação