Eleito papa a 19 de Abril de 2005, num mais rápidos conclaves de sempre, o cardeal Joseph Ratzinger, hoje com 82 anos, feitos quinta-feira, suscitou logo de início muitas reservas, dado o seu papel à frente da Congregação para a Doutrina da Fé, a sucessora da Inquisição.
Sétimo Papa alemão depois de Adriano VI (1522-1523), o último pontífice não italiano antes do polaco João Paulo II, e 265º pontífice da história da Igreja Católica, Bento XVI publicou logo no primeiro ano uma encíclica («Deus caritas est», Deus é amor) sobre o amor cristão, documento recebido com grandes elogios à sua dimensão intelectual e avanço teológico.
A participação no Encontro Mundial da Juventude, em Colónia, Alemanha, em Agosto de 2005, foi um primeiro teste à sua popularidade, sobretudo tendo em conta que sucedia a João Paulo II, que sempre encontrara grande eco entre os jovens.
A esmagadora maioria dos observadores referiu que Ratzinger, ainda poucos meses com a veste branca dos papas, passou com êxito esse teste, revelando uma inesperada facilidade de comunicação com os jovens.
Ano atribulado
Problemas de comunicação são apontados, no entanto, como estando na origem das polémicas registadas nos anos seguintes, e muito especialmente nos primeiros quatro meses de 2009.
Numa conferência em Ratisbona (Alemanha), em Setembro de 2006, provoca a ira dos muçulmanos ao citar uma frase do imperador Manuel II («Mostra-me então o que Maomé trouxe de novo. Não encontrarás senão coisas más e desumanas, tal como o mandamento de defender pela espada a fé que ele pregava»).
Mesmo os mais críticos de Bento XVI reconhecem que o papa foi mal interpretado, pois apenas pretendeu lançar um aviso aos muçulmanos para que façam uma reflexão teológica interna para se actualizarem e melhor entenderem o mundo de hoje.
Dois meses depois, numa visita à Turquia, Bento XVI rezou numa mesquita, num gesto que pretendia mostrar que não está distante dos muçulmanos.
Outro gesto bem recebido foi o pedido de desculpa pelos abusos sexuais e outros comportamentos cometidos por padres católicos, apresentado nas viagens aos Estados Unidos (Abril de 2008) e Austrália (Julho do mesmo ano).
Se todos estes incidentes agitaram as águas calmas do Vaticano, em nada se comparam com a turbulência verificada logo no início deste ano, quando Bento XVI decidiu levantar a excomunhão a quatro bispos integristas, ligados à Fraternidade S. Pio X, de Marcel Lefèbvre, que não aceita o Concílio Vaticano II e as reformas que introduziu na Igreja Católica.
Os protestos desta vez não vieram apenas de sectores externos à Igreja: além das comunidades judaicas se insurgirem contra a decisão, pois um dos bispos envolvidos nega a existência do Holocausto, também muitos grupos no interior da Igreja manifestaram desagrado e rejeição, sobretudo depois de em Setembro de 2007 Bento XVI ter cedido e admitido a celebração de missas segundo o rito tridentino, em vigor até ao Vaticano II.
A contestação dentro da própria Igreja foi de tal ordem que o papa, num gesto inédito, sentiu-se obrigado a endereçar uma carta aos bispos de todo o mundo, justificando a decisão.
Em Março, o que prometia ser uma viagem histórica a África (Camarões e Angola), acabou por ser abafada por uma declaração informal, feita no avião antes da chegada, em que Bento XVI afirma que a distribuição de preservativos não resolve o problema da sida em África, antes o aumenta.
De tudo o resto que o papa falou durante a viagem aos dois países africanos não ficou rasto, nem mesmo o apontar da mudança de comportamentos sexuais como uma das soluções para o problema ou a referência ao papel que a Igreja Católica tem desempenhado em África no combate à propagação da doença.
Fonte: IOL DiárioEtiquetas: animation gif, Benedict XVI, Bento XVI, Cartoon, Catholic Church, Deus, Joseph Ratzinger, magistério, Papa, Papacy, papado, polémicas, Pope, preservativo, sex, Sida, Vatican, Vaticano