A doença hepática crónica, mais conhecida por cirrose, afecta 5 a 10% da população portuguesa e é a causa de morte de perto de duas mil pessoas por ano no nosso país.
Segundo Carlos Monteverde, até ontem coordenador do Núcleo de Estudos das Doenças do Fígado da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (essas funções foram agora assumidas por José Presa), é uma doença que começa a afectar pessoas cada vez mais jovens.
"O paradigma da cirrose está a mudar. Antigamente, os alcoólicos eram pessoas idosas, mas hoje assistimos à juventude a começar a beber muito cedo. Muitos, mesmo logo a partir dos 13, 14 anos. Muitas dessas pessoas, talvez 50%, tornam-se alcoólicos crónicos", explicou ao JN Carlos Monteverde, no arranque das IV jornadas do núcleo, que decorreram em Espinho.
"As cirroses começam a aparecer a partir dos quarenta, cinquenta anos, mas, por se tratar de uma doença que surge porque se prepara o terreno para ela, brevemente poderemos começar a ver cirroses em idades mais precoces", continuou.
Sendo irreversível, a determinada altura a única solução para um doente com cirrose é mesmo o transplante de fígado.
"Felizmente, em Portugal, temos das melhores e mais produtivas unidades de transplante da Europa e mesmo do Mundo", afirma o mesmo especialista.
No que respeita às doenças hepáticas, a seguir à cirrose em termos de gravidade, aparecem as hepatites, nomeadamente a hepatite B e a hepatite C.
"As hepatites afectam um elevado número de pessoas. A hepatite C, por exemplo, atinge entre 1,5 % a 2% da população portuguesa. Não existe vacina, mas temos tratamentos que, felizmente, têm uma taxa de cura na ordem dos 60%. Já a hepatite B", continua, "contra a qual conseguimos resultados muito positivos junto dos portugueses com o plano nacional de vacinação, nos preocupa tanto", disse ainda Carlos Monteverde.
Preocupações e números que levam os médicos internistas que dedicam a maior parte do seu tempo às doenças hepáticas a reclamar junto da Ordem dos Médicos pelo título de especialistas em hepatologia, o que já acontece a vários gastroenterologistas.
"A importância das doenças hepáticas é muito grande pela elevada taxa de mortalidade, mas também por levarem um grande número de pessoas a sair da vida activa do país, o que se torna um problema económico para o país. Circunstâncias que levam vários grupos de médicos a dedicarem-se quase exclusivamente às doenças hepáticas", argumentou, por fim, Carlos Monteverde.