The electronic cigarette: It's not safe
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Nos Estados Unidos, o cigarro electrónico está longe de ser uma novidade - aliás, os legisladores de Nova Iorque estão a discutir a hipótese de proibir a sua comercialização. Em Portugal, a moda está apenas a chegar, mas são já dezenas os sites sediados no país que os propagandeiam como uma alternativa mais saudável do que o cigarro convencional. E mais barata também. Alguns quiosques, bares, e até parafarmácias, já os comercializam, nomeadamente no Algarve, onde a omnipresença dos estrangeiros garante o volume de vendas. Enquanto isso, a classe médica deita as mãos à cabeça, por considerar que aquilo está muito longe de ser inócuo para a saúde e muito menos de funcionar como instrumento para deixar de fumar, como anunciam alguns sites. Alega-se que as suas semelhanças com o original dificultam o abandono do vício mas, mais do que isso, há especialistas que acusam o e-cigarro - que contém nicotina em estado líquido ou em gel - de libertar substâncias e gases nocivos na sua combustão. Sem fumo, o seu "vapor de água" terá mesmo um químico chamado etilenoglicol, normalmente utilizado como anticongelante nos automóveis.
Compostos cancerígenos
O www.ecigarette7.com, por exemplo, foi criado exclusivamente para comercializar uma marca norte-americana de cigarros electrónicos. Nos bastidores do ecrã, está uma empresa com sede na Maia. "Tínhamos uma pessoa conhecida nos Estados Unidos, e como cá não havia grande coisa, decidimos criar este site, que existe há mês e meio", conta Joana Marques. Recusa revelar o deve e haver das vendas, mas adianta que a empresa já está a planear "abrir espaços onde o cliente possa experimentar o produto, nomeadamente em centros comerciais".
Rui Santos, do www.e-cig.com.pt, importa os cigarros directamente da China e, além do site, vende-os em bares, restaurantes, tabacarias e papelarias, sobretudo da Zona Sul do país. "Comecei com este negócio em Agosto do ano passado e, nos últimos dois meses, notei um aumento da procura na ordem dos 20 a 30 por cento", conta. Por causa da publicidade contida no filme ou por causa dos presentes de Natal, a procura surge pela mão de gente que tenta reduzir ou acabar com o cigarro convencional. "As pessoas preferem o cigarro electrónico aos pensos de nicotina, porque conseguem manter o hábito de boca e depois as recargas permitem ir regulando a intensidade da nicotina", explica o empresário. Que não se cansa de enumerar as vantagens da coisa: "Não há fumadores passivos, não fica mau hálito, nem cheiro.
"Dependendo das marcas, o kit inicial pode custar entre 40 a 60 euros. Descontadas as variantes de cor, feitio e sabor, estes cigarros contêm nicotina em estado líquido ou em gel. Quando esta é inalada, há uma ponta que se acende e, no momento em que se expira, forma-se um vapor de água muito parecido com o fumo do cigarro convencional. Um pack de recargas, o equivalente a três maços de cigarros, custa à volta de 6 euros. As vendas estão interditas a menores de 18 anos, mas, na Internet, fazem-se, como diz Joana Marques, "com base na confiança". "As pessoas registam-se e declaram que são maiores de idade, mas nós não podemos ligar para ter a certeza, não é?".
Quem for à procura de saber mais no mundo virtual, encontra um verdadeiro eldorado para os viciados em nicotina. A publicidade faz-se com recurso a jovens profissionais que se vangloriam por não terem que se levantar da secretária para fumar e a universitários que garantem que a invenção lhes permitiu poupar imenso dinheiro. No www.ecigarette7.com, a publicidade chega a fazer-se até com recurso à figura de um médico, bata branca e estetoscópio ao peito, ao lado da legenda: "Não só sou utilizador como recomendo a muitos dos meus pacientes. Com menos 4000 químicos, é difícil não recomendar."
"Nos anos 1940, a Marlboro também aparecia com publicidade a dizer "O seu médico aconselha Marlboro, até para a asma"", recorda a pneumologista Cecília Pardal. Ao seu gabinete já chegaram pacientes com perguntas sobre os e-cigarros e a resposta foi invariavelmente a mesma: "Os cigarros electrónicos não são aconselháveis de maneira nenhuma: nem para cessação nem como substituição." Porquê? "Têm nicotina em estado líquido e implicam um processo de combustão no qual são libertadas substâncias e gases nocivos para a saúde." Os adesivos também libertam nicotina para o organismo, mas, "nestes, a libertação é feita de maneira diferente sem recurso ao processo de combustão".Em Espanha - onde, segundo Rui Santos, os e-cigarros foram dos regalos com mais procura no último Natal, muito por causa das apertadas restrições levantadas pela nova lei do tabaco -, o comité nacional equivalente à nossa Confederação Portuguesa de Prevenção do Tabagismo emitiu uma circular a alertar para os riscos dos e-cigarros, sustentando que algumas marcas, além da nicotina, libertam "quantidades detectáveis de nitrosaminas, um composto cancerígeno que também se encontra no fumo dos cigarros convencionais". Noutros, terá sido detectado o químico etilenoglicol. Assim, conclui aquele organismo, "não se pode afirmar alegremente que os cigarros electrónicos só libertam vapor de água".
Nem tabaco, nem fármaco
A Austrália já proibiu estes cigarros em 2008 e são várias as investigações que apontam o risco de estes cigarros, por serem publicitados como alternativa saudável, poderem levar ex-fumadores a reincidir, por um lado, e atrair novos consumidores, por outro. "É uma forma de iniciação, mais um gadget a que os jovens acham piada", concorda Luís Rebelo, da Confederação Portuguesa de Prevenção do Tabagismo.
Quanto a quem procura alternativas ao cigarro, a circular lembra que existe nas farmácias "nicotina medicinal limpa, com plenas garantias sanitárias e com eficácia demonstrada no aplacar da "fome de nicotina" e no alívio do desejo compulsivo de fumar".
Por cá, nenhuma autoridade se pronunciou ainda sobre os cigarros electrónicos, que, aliás, são vendidos a bordo de uma companhia de aviação low cost. Talvez porque, como aventa Sérgio Vinagre, coordenador do Programa de Prevenção e Tratamento do Tabagismo da Administração Regional de Saúde do Norte, os e-cigarros não são tabaco mas também não são fármaco, apesar de conterem nicotina. Logo, diluem-se numa espécie de território sem dono e o mais certo é que Portugal fique à espera que instâncias internacionais como a Organização Mundial de Saúde ou, num plano diferente, a Comissão Europeia emitam directrizes sobre o assunto. Enquanto isso, "este fenómeno novo vai continuar a apresentar-se insidiosamente como se fosse uma coisa inócua ou até com vantagens para a saúde", lamenta Vinagre, para quem os e-cigarros oferecem "riscos colossais" para a saúde pública. Porquê? "Porque procuram vender a quimera de que é possível ter o prazer sem sofrer as consequências e de que é possível ter uma população dependente mas eticamente muito bem comportada porque quem fuma não prejudica o outro."
Nota Pessoal: O melhor que há a fazer é não fumar.
Personal Note: The best you can do is not smoke
Fonte da notícia:
Publico