Cavaco Silva wins presidential elections in Portugal
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Cavaco Silva assumiu-se esta noite como o rosto da vitória da “honra” sobre a “infâmia”, colocando entre os “vencidos” das presidenciais “aqueles políticos e os seus agentes que preferem o caminho da mentira e das calúnias ao debate de ideias sobre o futuro de Portugal”. Sem se alargar em pistas sobre o futuro imediato das relações com o Governo de José Sócrates, o Presidente reeleito comprometeu-se a protagonizar “uma magistratura ativa”.
Institucional. Foi assim o discurso reproduzido por Aníbal Cavaco Silva no púlpito da Sala Almada Negreiros, no Centro Cultural de Belém. No termo de um escrutínio que lhe deu a vitória à primeira volta, com 52,95 por cento dos votos, o Presidente reeleito começou por saudar “todos os portugueses que, com elevado sentido cívico, votaram neste ato eleitoral”. Um processo que ficou toldado pelas dificuldades sentidas por inúmeros eleitores que se apresentaram nas urnas munidos de cartões de cidadão e sem conhecerem os novos números de recenseamento.
Ao longo do dia, à medida que os mecanismos eletrónicos da Direção-Geral da Administração Interna se revelavam insuficientes para responder às solicitações, as filas extensas multiplicavam-se por todo o país. A própria Comissão Nacional de Eleições (CNE) acabaria por admitir que a confusão nas mesas de voto iria “aumentar com certeza a abstenção”. Cavaco não ignorou o problema, ao deixar uma palavra aos “portugueses que não puderam votar por razões burocráticas”. Mas passou por cima da abstenção, que desta feita se cifrou em 53,37 por cento. “Os níveis de participação verificados nestas eleições, realizadas em circunstâncias de grandes dificuldades, mostraram o sentido de responsabilidade do nosso povo”, considerou.
Antes de fazer uma alusão velada aos casos das ações que deteve na Sociedade Lusa de Negócios e da aquisição da sua casa de férias em Albufeira, os temas que mais aqueceram as semanas de campanha, Cavaco Silva sustentou que “os portugueses falaram e disseram com clareza quem queriam para Presidente da República”: “Quero agradecer, do fundo do coração, a todos os que no Continente, nos Açores, na Madeira e nas comunidades portuguesas dispersas pelo mundo me deram a honra da sua escolha. Farei tudo o que estiver ao meu alcance para justificar a confiança que em mim depositaram. Serei Presidente de Portugal inteiro, de todos sem exceção. Cumprirei o que prometi. Para mim, Portugal estará sempre primeiro”.
“Nesta eleição há vencidos”
A meio do primeiro discurso, Cavaco sublinharia que a campanha eleitoral decorreu “em condições muito difíceis”. “Numa hora de alegria e festa, como a de hoje, não é tempo de recordar a forma como os meus adversários procuraram denegrir o meu caráter e a minha integridade pessoal”, atalhou o vencedor das eleições. Para logo recordar que “foram cinco contra um”: “A dignidade e o respeito que deve envolver uma eleição presidencial não foram respeitados. Quero apenas dizer que os portugueses souberam ver de que lado estava a verdade e, mais do que isso, condenaram expressivamente, com a grande vitória desta noite, uma forma de fazer política que é imprópria de uma democracia adulta e consolidada”.
Na perspetiva de Cavaco Silva, “a vitória de hoje é também a vitória da verdade sobre a calúnia, a vitória de uma candidatura feita pela positiva”. Debaixo dos aplausos dos seus apoiantes, o Chefe de Estado tratou de assinalar que, na noite eleitoral, houve “vencedores e derrotados”. Venceram, segundo Cavaco, “os que acreditam em Portugal, os que têm a coragem da esperança, os que estão na vida pública com uma atitude construtiva, os que fizeram uma campanha com ideias, com projetos a pensar nos portugueses”.
“Nesta eleição há vencidos: são aqueles políticos e seus agentes que preferem o caminho da mentira das calúnias, dos ataques sem sentido, ao debate de ideias sobre o futuro de Portugal. Foi o povo que democraticamente os derrotou”, frisou Cavaco Silva, arrancando mais aplausos. “Uma vez mais, o povo português não se deixou enganar. Esta é a noite da vitória da dignidade. A honra venceu a infâmia e a qualidade da democracia ganhou com esta vitória da dignidade”, reforçou.
“Uma magistratura ativa”
Sem abandonar a postura institucional, Aníbal Cavaco Silva reafirmou que “um candidato à Presidência da República não tem um programa”. Mas “tem uma linha de ação, um projeto para a sua magistratura”. E Cavaco será “um referencial de confiança, de estabilidade e de solidariedade”. Isto sem abrir mão de “nenhum dos poderes que a Constituição confere” ao Presidente.
“Exercerei uma magistratura ativa, cooperando lealmente com todos os órgãos de soberania para a defesa dos grandes objetivos estratégicos nacionais. No imediato, as prioridades são o combate ao flagelo do desemprego, a contenção do endividamento externo e o reforço da competitividade da nossa economia. Na linha da frente da minha magistratura de influência estará a luta pela inclusão social, combatendo as situações de exclusão decorrentes da pobreza, do desemprego, da precariedade do trabalho”, reiterou, para afirmar, adiante, que a sua “força vem do povo”: “No quadro das competências constitucionais do Presidente da República, irei utilizá-la em benefício de Portugal inteiro”.
Na Sala Almada Negreiros, Cavaco Silva enfatizou que o apoio que lhe foi outorgado por PSD, CDS-PP e Movimento Esperança Portugal (MEP) teve como pressuposto o facto de se tratar de uma “candidatura pessoas e suprapartidária”. Todavia, o quadro político-partidário do pós-reeleição perpassou as intervenções de todos os partidos na noite eleitoral.
Entre as formações que secundaram o Presidente, as posições oscilaram entre a leitura incisiva de Paulo Portas, que viu na vitória de Cavaco a abertura de “um novo ciclo político”, e a contenção de Pedro Passos Coelho, que se escusou a encarar as presidenciais como “uma primeira volta ou uma espécie de eleição primária das futuras eleições para o Parlamento”. À esquerda, o coordenador do BE, Francisco Louçã, acusou o PSD e o CDS-PP de estarem “já afiar as facas pela disputa do poder”, ao passo que o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa defendeu mesmo que a reeleição de Cavaco Silva abre caminho a “novos ataques ao regime democrático”. José Sócrates trocou por instantes a pele de líder do PS pela de primeiro-ministro para prometer empenho numa “leal cooperação com o Presidente da República agora eleito”.
“Vil baixeza”
Cavaco levava no bolso um segundo discurso. Sobre uma grande bandeira portuguesa, numa varanda interna do Centro Cultural de Belém, voltaria a falar aos seus apoiantes para dizer, uma vez mais, que prevaleceu perante o que considerou ser a “vil baixeza” das estratégias dos adversários. E também para deixar críticas aos média: “Eu penso que seria extremamente benéfico para o funcionamento da política em Portugal que a nossa comunicação social revelasse os nomes daqueles que estão por detrás desta campanha que foi orquestrada contra mim”.
Dirigindo-se, depois, “aos jovens”, Cavaco Silva deixou um apelo: “Lutem por uma nova forma de fazer política, mais mérito nas escolhas políticas, mais transparência e fundamentação nas decisões, mais ética de serviço público, mais respeito pela dignidade das pessoas, mais cumprimento das promessas feitas, debate político mais sereno e construtivo e menos espetáculo e mais verdade no discurso”.
“Jovens de Portugal: lutem por uma informação séria e objetiva, que não esconda aquilo que de bom os jovens portugueses estão a fazer por todo o nosso Portugal. Lutem para fazer de Portugal um país melhor na qualidade da sua democracia, no desenvolvimento económico do país, na justiça social e na ambição”, insistiu.
Fonte da notícia: RTP