Enquanto falava sobre o futuro, Obama refletia no passado, ressaltando as Palabras da Declaração de Independência, o próprio Lincoln, que Obama manifestou admiração diversas vezes, e o presidente John F. Kennedy. Ele citou os país da nação, que arriscaram tudo sem garantias de sucesso, no verão de 1776 na Filadélfia, na Revolução Americana. "A Revolução dos EUA não terminou quando as armas dos britânicos se silenciaram". Suas palavras tiveram um sentido especial por terem sido pronunciadas na Filadélfia, a cidade que, em suas próprias palavras, "começou a aventura dos Estados Unidos", já que foi nesta localidade da Pensilvânia que a Independência foi declarada e a Constituição promulgada.
Terminado o discurso, Obama iniciou a viagem de trem de Filadélfia a Washington, na qual está acompanhado de sua esposa, Michelle, que completa 45 anos neste sábado, e suas duas filhas, Sasha e Malia, assim como de um grupo de amigos e convidados. O trem chegará à Union Station, em Washington, por volta das 19h locais (22h de Brasília), e todo o percurso acontecerá com uma segurança sem precedentes, apesar de as autoridades assegurarem que não existe qualquer ameaça contra o presidente eleito.
Viagem de Lincoln
O trajeto de Lincoln foi bem mais longo e começou 12 dias antes da posse; o trem da Filadélfia a Washington foi apenas o trecho final. Lincoln não contava com rádio ou TV para fazer sua mensagem chegar à população. A viagem com 101 paradas e discursos foi uma estratégia de comunicação em massa. Mesmo contando com uma intensa cobertura de todos os tipos de mídia, Obama deve atrair multidões em suas duas paradas. Na primeira, em Wilmington, Delaware, ele se encontrará com seu vice, Joe Biden. Os dois seguirão juntos a Washington, mas antes devem fazer mais uma parada, em Baltimore.
Obama lançou sua candidatura em Springfield, mesma cidade em que Lincoln iniciou a carreira política. Depois de eleito, inspirou-se no "time de rivais" montado pelo antigo presidente e escolheu para seu gabinete antigos adversários, como Hillary Clinton, com quem concorreu nas primárias democratas, e Robert Gates, funcionário de Bush.
Obama diz ainda ter preparado seu discurso de posse inspirado em textos de Lincoln e, na hora do juramento, vai usar a mesma Bíblia usada por ele. Lincoln sobreviveu à tentativa de assassinato durante a viagem de trem, mas acabou morto em um atentado em 1865, já no seu segundo mandato. O serviço secreto garante que não há ameaças iminentes para a viagem de Obama. Mesmo assim, as medidas de segurança são extremamente rigorosas. Há sensores biológicos, químicos e de radiação em todo caminho. Barcos fazem patrulha permanente nos rios a serem cruzados e o trem será acompanhado por jatos da Força Aérea.
"Celebração do espírito americano"
No programa de rádio semanal, Obama disse que sua posse, marcada para terça-feira (20), será, mais do que uma simples transferência de poder, "uma celebração do espírito americano". Segundo Obama, a posse de um presidente americano é um ritual de passagem que os EUA realiza a cada quatro anos como "testamento de seus ideais democráticos". Ele disse ainda que a tradição da posse não deve ser vista como algo corriqueiro.
"Devemos nos lembrar que nossa nação foi fundada em um tempo de reis e rainhas, e mesmo hoje bilhões de pessoas ao redor do mundo não conseguem conceber que seus líderes desistam do poder sem luta ou derramamento de sangue", disse Obama, em seu pronunciamento semanal via rádio e Internet. Obama observou ainda que os EUA têm um histórico de transições presidenciais pacíficas, independente das circunstâncias.
"As posses ocorreram em tempos de guerra e de paz, durante a Depressão e a prosperidade", disse. "Nossa democracia já passou por muitas mudanças, e nosso povo já deu muitos passos na busca de uma união mais perfeita. O que sempre perdura é esta transferência de poder pacífica e organizada". No pronunciamento de hoje, Obama também deu uma prévia de temas que serão tratados na posse de terça, como o desafio dos EUA diante de sua crise econômica.
"Há muito trabalho a ser feito. Mas agora, todos os americanos têm em nossas mãos a promessa de um novo começo", afirmou Obama. "É por isso que os eventos dos próximos dias não se resumem simplesmente à posse de um presidente americano; serão a celebração do povo americano", completou.