O acelerador de partículas mais potente alguma vez criado pretende recriar os primeiros momentos do Universo, podendo mudar todos os conceitos que actualmente temos acerca da criação do mundo.
O Laboratório Europeu de Física de Partículas (CERN), que desenvolveu este projecto gigantesco com um custo que chegou quase aos quarenta mil milhões de euros, espera que o Large Hadron Collider (LHC) responda a quatro das grandes questões que desde há dezenas de anos movimentam o pequeno mundo da física das partículas.
O funcionamento do LHC permitirá chegar a descobertas que "mudarão profundamente a nossa visão do Universo, particularmente a sua Criação", afirma o director do CERN, Robert Aymar.
O grande projecto, que o CERN garante ser seguro, permite recriar as condições que prevaleceram no Universo nos milésimos de segundo que se seguiram imediatamente ao 'Big Bang'.
A matéria existia então sob a forma de uma espécie de sopa densa e quente chamada plasma de quarks-glúons (PQG). Ao esfriarem, as partículas chamadas quarks aglutinaram-se em proteles, neutrões e outras partículas compostas.
O LHC irá estilhaçar os iões pesados uns contra os outros, gerando temperaturas 100 mil vezes mais elevadas que as do centro do sol.
Estas colisões libertarão os quarks do seu grupo, permitindo então aos investigadores ver como estes quarks libertados se aglutinam para formar matéria.
Encontrar o 'Bosão de Higgs', uma partícula instável qualificada de 'divina', porque muitos investigadores a estudaram, mas nunca ninguém a viu, é outro dos objectivos deste projecto.
O bosão com o nome do físico britânico Peter Higgs, que o descobriu por dedução em 1964, permitiria aos físicos explicar a origem da massa e por que é que certas partículas são desprovidas de matéria.
Neste caso, o CERN está a tentar chegar ao Higgs antes dos norte-americanos do Fermilab, um laboratório de Chicago que também participa na experiência do LHC, que utiliza o Tevatron, um outro acelerador que deverá ser retirado progressivamente do serviço a partir de 2010.
O LHC tem ainda como objectivo explorar a supersimetria, um conceito que permite explicar uma das descobertas mais estranhas dos últimos anos, a de que a matéria visível apenas representa quatro por cento do Universo: a matéria negra (23 por cento) e a energia negra (73 por cento) partilham o resto.
Uma das explicações apontadas é a de que a matéria negra seria composta de partículas supersimétricas, chamadas neutralinos.
O LHC permite também estudar o mistério da matéria e da anti-matéria. Quando a energia se transforma em matéria produz, aos pares, uma partícula e o seu reflexo, uma anti-particula de carga eléctrica oposta.
Assim que uma partícula e a sua anti-partícula entram em colisão, elas aniquilam-se mutuamente num pequeno clarão de energia.
Conhecido este procedimento, a lógica, para os cientistas, seria a de que a matéria e a anti-matéria existissem no Universo em quantidades iguais, mas o mistério é que, na realidade, a anti-matéria é rara.
A segurança da experiência foi posta em causa em diversas ocasiões por cientistas que, inclusive, chegaram a pedir perante os tribunais o fim do processo, com teorias mais ou menos catastróficas sobre a possibilidade de que se criarão pontos negros e até que a Terra possa ser engolida nesta experiência.
Este mês o CERN veio garantir que o LHC é seguro e que qualquer medo sobre possíveis riscos é infundado.
"O LHC é seguro e qualquer sugestão de que poderá representar um risco é pura ficção", disse o director-geral do CERN, Robert Aymar, num comunicado.
O organismo afirmou que a segurança do acelerador é evidenciada num artigo publicado no "Journal of Physics G: Nuclear and Particle Physics", baseado nos sucessivos relatórios elaborados desde 1994, quando se idealizou o projecto.
Um relatório global efectuado por cientistas independentes em 2003 concluiu também que o LHC é seguro e, em Junho, foi actualizado com novos dados que demonstraram "não haver bases para nenhuma preocupação".
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