“Aquilo que de melhor a Igreja tem para oferecer a cada homem e mulher é esta afirmação simples, de que Cristo está connosco até ao fim dos tempos, e que a forma concreta de nos encontrarmos com ele é comungando-o, adorando-o e seguindo-o no concreto desta manifestação tão singular e tão bela” sublinha o pároco de São Nicolau, em declarações ao programa da Igreja Católica, na Antena 1.
Numa entrevista que poderá ser acompanhada esta noite, a partir das 22h45, o sacerdote aborda a forma como esta tradição religiosa, incorporada na Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, tem marcado a história da cidade de Lisboa, desde há quase 8 séculos.
Se no tempo da ocupação espanhola, no século XVI, o rei Filipe I considerou a celebração lisboeta como a “mais concorrida e solene”, durante a regência de D. João V ela “ganhou uma tal dimensão que os estrangeiros registavam em 1730 uma pompa que ultrapassava tudo o que se pratica em outros lugares da cristandade” realça Mário Rui Pedras.
Este exemplo de adoração e fervor popular sobreviveu mesmo às primeiras décadas de implantação da República em Portugal, a partir de 1910, altura em que “se proibiram todos os dias santos da Igreja e se interrompeu o culto público”.
Retomada nos anos 50 do século XX, “ainda que muitas vezes só nos claustros da Sé” e restaurada publicamente pelo cardeal António Ribeiro, nos anos 70, a procissão do Corpo de Deus assume-se hoje como a “mais antiga e participada” de todas as manifestações religiosas deste género.
Esta quinta-feira, segundo o sacerdote, deverão marcar presença nesta “caminhada” cerca de 10 mil pessoas, crentes e não crentes, que acompanharão “Cristo Ressuscitado” pelas ruas da baixa lisboeta.
“Muitas têm a primeira experiência de contacto com esta realidade” aponta o pároco de São Nicolau, para quem o segredo desta adesão está sobretudo na forma “digna e bela” como este ato de culto é realizado.
A Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo é celebrada todos os anos pela Igreja Católica, sempre na quinta-feira imediatamente a seguir ao domingo da Santíssima Trindade.
Conhecida popularmente como “Corpo de Deus”, começou por ser assinalada em 1246, na cidade de Liège, na atual Bélgica, tendo sido alargada à Igreja latina pelo Papa Urbano IV através da bula "Transiturus", em 1264.
A "comemoração mais célebre e solene do Sacramento memorial da Missa", nas palavras de Urbano IV, recebeu várias denominações ao longo dos séculos: festa do Santíssimo Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo; festa da Eucaristia; festa do Corpo de Cristo.
Hoje denomina-se solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, tendo praticamente desaparecido a festa litúrgica do "Preciosíssimo Sangue", a 1 de julho.
A procissão com o Santíssimo Sacramento é recomendada pelo Código de Direito Canónico, no qual se refere que "onde, a juízo do Bispo diocesano, for possível, para testemunhar publicamente a veneração para com a santíssima Eucaristia faça-se uma procissão pelas vias públicas, sobretudo na solenidade do Corpo e Sangue de Cristo" (cân. 944, §1).