Jerusalem, city of prayer and confrontation
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Confrontos entre judeus ultra-ortodoxos e a polícia israelita voltaram a acontecer nas ruas de Jerusalém. Milhares de homens, vestidos de negro e portadores de kippa ou de chapéu, e muitos deles acompanhados pelos filhos, abandonaram a "segurança" do seu pequeno bairro, onde há muito impuseram as regras, para enfrentar as forças de segurança de um Estado que não reconhecem.
E pelo terceiro dia consecutivo, os 'homens de negro' deixaram as suas ruas de Mea Sharim, de Beit Yisrael e de Geula - alguns quarteirões a ocidente da Cidade Velha - para fazer ouvir o seu protesto contra o que consideram ser uma "interferência" do Governo na vida individual de alguém que pertence à sua comunidade. Já não se trata apenas de um parque de estacionamento que funciona durante o sabat - o dia sagrado dos judeus que tem o seu início ao pôr do Sol da sexta-feira e termina ao pôr do Sol de sábado - mas de algo muito mais grave, em sua opinião: a detenção de uma judia ultra-ortodoxa, por alegadamente estar a matar à fome o filho de três anos.
De acordo com os médicos, a "mãe X" - um membro do grupo Naturei Karta, que recusa a legalidade do Estado de Israel porque a sua criação atrasou a vinda do Messias - sofre da sindroma de Munchausen, um distúrbio psicológico que leva o paciente a provocar situações de enfermidade noutras pessoas para poder ter a atenção e a simpatia, neste caso, de médicos e técnicos de saúde. Assim, levou várias vezes ao hospital o filho de três anos, com problemas de desenvolvimento físico - chegou a pesar três quilogramas. Internado, a mãe foi vista pelas câmaras de vigilância e pelo pessoal hospitalar, a retirar a sonda nasogástrica à criança ou a injectar algo desconhecido na mesma. Detida a mãe, a criança está a recuperar. Mas isso não conta para os ultra-ortodoxos que recusam, em absoluto, a explicação médica.
Na fúria de se fazerem ouvir pela sociedade laica que repudiam, transformaram as ruas da cidade em algo semelhante a lixeiras, agrediram a polícia, sem se questionarem, nem quererem saber a verdade da situação. E esta irracionalidade voraz - típica de momentos de tensão, crise ou até de ruptura - poderá extravasar as ruas de Jerusalém e chegar a outros locais, inclusive à cidade mais aberta de Israel, a mediterrânica Telavive, onde a comunidade ultra-ortodoxa começa a fazer sentir a sua presença. Daí a necessidade de conter o protesto, de impedir o extremar de posições, o agudizar, afinal, do conflito entre religiosos e laicos num Estado confessional. A detenção da mãe foi, afinal, a gota de água que fez transbordar o copo.
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