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domingo, 30 de dezembro de 2007

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A nova lei do tabaco

A partir de terça-feira a vida dos fumadores portugueses vai mudar com a entrada em vigor da nova lei do tabaco, que genericamente proíbe o fumo em todos os espaços destinados a utilização colectiva.


O nervosismo aumenta, a dificuldade de concentração dispara e a cabeça parece conseguir apenas pensar numa única coisa: tragar o fumo do tabaco. Com a chegada do novo ano, o gesto tão simples como acender um cigarro torna-se tarefa mais difícil, devido às proibições resultantes da entrada em vigor da nova lei. Centros comerciais, recintos de espectáculos, espaços de restauração, hotéis, transportes públicos...

A lista de diferentes locais que se querem livres de fumo é longa e para quem não apagar o cigarro fica o aviso: as multas podem ir dos 50 aos 750 euros.

Um incentivo para abandonar o vício, que se torna um desafio que poucos conseguem vencer, a julgar pelos números. Segundo um estudo publicado na revista ‘New Scientist’, 85 por cento dos que pararam voltou a cair no vício e apenas três por cento conseguiu, de facto, levar avante a vontade de deixar de fumar.

Uma situação que a Ciência já consegue explicar. É que a sensação de prazer provocada pelo tabaco é comum a todas as substâncias capazes de criar dependência, sejam elas sedativas, estimulantes ou relaxantes. Ou seja, de acordo com os especialistas, os cigarros não são muito diferentes de outras drogas, tendo com elas em comum a capacidade de estimular a libertação no cérebro de dopamina, substância química que nos faz sentir bem.

Dizem vários estudos que todas as substâncias viciantes, desde o tabaco à heroína, passando pela cocaína, álcool, marijuana ou anfetaminas, activam os mesmos circuitos cerebrais. No caso da nicotina, prevalente nos cigarros, potencia também a libertação de dopamina, provocando a sensação de bem-estar e, mais do que isso, um reforço da conduta que desencadeou o estímulo. O que significa que o consumo prolongado dos cigarros faz com que o cérebro deixe de produzir a quantidade de dopamina natural, levando o fumador a precisar de mais para se sentir bem.

MISTURA LETAL

“A protecção dos cidadãos da exposição involuntária ao fumo do tabaco” é o que se pretende com a nova lei, datada de 14 de Agosto. Ao mesmo tempo, lê-se na legislação, querem-se mais “medidas de redução da procura”.

Para além da nova lei, não faltam motivos para deixar de fumar. Basta olhar com atenção para a lista de ingredientes que compõem um cigarro, uma mistura potencialmente letal que conta, entre os seus mais de quatro mil compostos, com acroleína, uma substância usada para desinfectar águas residuais; peróxido de nitrogénio, usado em alguns tipos de motores; ácido cianídrico, usado para a limpeza de metais (era usado nas câmaras da morte nazis); amoníaco, utilizado na indústria pesada. A estes juntam-se ainda outros, cancerígenos, capazes de provocar um sem número de problemas de saúde sentidos por muitos fumadores.

UM MAL EM FORMA DE CIGARROS

É responsável por 90 por cento dos cancros de pulmão nos homens e 75 por cento nas mulheres, aumentando também em 25 a 30 por cento o risco de desenvolvimento de qualquer outro tipo de tumor maligno. Mais ainda, o tabaco mata mais, segundo a Organização Mundial de Saúde, do que a sida, as drogas legais e ilegais, os acidentes de viação, os assassinatos e os suicídios todos juntos.

ACÇÃO DO FUMO

No fumo do tabaco podem ser encontradas mais de quatro mil compostos químicos, 60 dos quais cancerígenos. Entre eles contam-se a acetona, presente nos solventes, o arsénio, ingrediente de muitos insecticidas ou a nicotina.

1. A nicotina é um dos componentes do tabaco e é a responsável pela maioria dos efeitos que os cigarros produzem no organismo e ainda pela dependência física. É absorvida pela boca, nariz e faringe, mucosas que estão em contacto com o fumo, e chega aos pulmões.

2. O coração bombeia o sangue carregado de oxigénio e nicotina e leva-o para o resto do organismo. São apenas necessários sete segundos para chegar ao cérebro, onde actua.

3. A nicotina provoca um aumento da libertação de dopamina (um neurotransmissor) no cérebro de forma quase imediata e, logo, um estímulo do circuito do prazer. O que significa que produz uma sensação de satisfação, prazer e recompensa. O seu consumo repetido faz com que se liberte mais e mais dopamina, levando os fumadores a ficarem viciados na sensação de prazer.

4. Devido à nicotina, as artérias e as veias comprimem-se, elevando a pressão sanguínea.

5. O aumento de dióxido de carbono e monóxido de carbono no sangue produzem uma acção irritante sobre as vias respiratórias, elevando a frequência respiratória.

AO DEIXAR DE FUMAR

– Em 20 minutos normaliza-se o pulso e a pressão arterial

– Em 48 horas reduz-se o risco de ataque cardíaco

– Entre um a 9 meses desaparece a fadiga

– Após um ano desce para metade o risco de cancro

ESPAÇOS PÚBLICOS LIVRES DE FUMO

Todos os espaços públicos fechados vão passar a ser livres de fumo. Entre eles contam-se os locais de trabalho, centros comerciais, recintos de diversão, hotéis, restaurantes, bares e cafés, aeroportos, elevadores, transportes públicos, entre outros.

OS POLÍCIAS DA FISCALIZAÇÃO

‘Unidos contra o tabaco’ é o novo lema na Índia, país onde o aumento do consumo levou o governo a adoptar medidas mais severas. Para penalizar os que insistirem em acender um cigarro nos locais públicos, onde é proibido, criou uma espécie de polícia da fiscalização. Dos condutores de autocarros aos revisores dos comboios, serão muitos aqueles dotados de capacidade para castigar os prevaricadores. Por cá, vai caber à Agência de Segurança Alimentar e Económica e à Direcção-Geral do Consumidor a fiscalização, mas o ministro da Saúde acredita que, graças ao civismo nacional, a legislação será cumprida.

EPIDEMIA CEIFA MILHÕES DE VIDAS

O consumo de tabaco atingiu proporções de uma epidemia, não havendo outro produto tão perigoso ou capaz de matar tanta gente. O alerta é deixado pela Organização Mundial de Saúde, comprovados pelos números. Contas feitas, os cigarros matam metade dos que mantêm o vício ao longo de toda a vida. Destes, 50 por cento perde a vida ainda na meia-idade, entre os 35 e os 69 anos. Mas há mais. Os dados revelam que no século passado morreram 0,1 mil milhões de pessoas devido ao consumo do tabaco. Estima-se que, no decorrer deste século, o número de mortos venha a ser dez vezes superior.

VÍTIMA MORTAL DOS CIGARROS

Foi, durante anos, um dos ícones da publicidade mundial. Montado a cavalo e trajado a rigor, o cowboy bem-parecido, baptizado de ‘Marlboro Man’, nem sempre teve a mesma imagem, mas o apelo ao cigarro da marca que lhe deu o nome manteve-se, durante décadas, tornando- -se um verdadeiro símbolo do Mundo masculino. Mas nem a fama ou o reconhecimento livraram o homem da Marlboro de sofrer os efeitos nocivos dos cigarros pelos quais deu a cara. Primeiro foi David McLean, em 1995, vítima de cancro nos pulmões com apenas 51 anos. Depois dele, Wayne McLaren, outro rosto da mesma campanha, com destino idêntico, o que levou as organizações de luta contra o tabagismo a adoptarem a imagem do cowboy como forma de alerta contra os malefícios dos cigarros. O Marlboro Man era definitivamente enterrado.

NOTAS

RISCO MORTAL

Richard Doll, cientista que associou o tabaco ao risco de cancro, diz que, “para quem não fuma, uma hora por dia com um fumador pressupõe um risco cem vezes maior de cancro do pulmão, do que viver 20 anos num edifício com arsénio”.

CRIANÇAS INDEFESAS

As crianças são as que mais riscos correm pela exposição ao fumo do tabaco. Entre outros, podem sofrer de otites, pneumonias, atrasos cognitivos, agravamento da bronquiolite e asma.

VÍCIO AOS DEZ ANOS

Cerca de mil milhões de homens fumam em todo o Mundo, revelam dados da Organização Mundial de Saúde. A grande maioria dos viciados no tabaco começa a fumar antes da idade adulta (um quarto antes dos 10 anos).

FUMO PASSIVO

As primeiras evidências conclusivas do perigo que representa o fumo passivo foram apresentadas por um estudo japonês, em 1981. O trabalho dava conta dos malefícios dos cigarros para as mulheres japonesas casadas com fumadores.

Fonte da notícia: Correio da Manhã





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