"Por que não te calas?!" A irritação do rei espanhol Juan Carlos para com Hugo Chávez fez estalar o verniz no último dia da XVII Cimeira Ibero-Americana, que durante dois dias reuniu 22 chefes de Estado e de Governo em Santiago do Chile.
O presidente venezuelano interrompia sucessivamente José Luis Zapatero, que saía, uma vez mais - já o tinha feito de manhã em conferência de Imprensa -, em defesa do ex-primeiro-ministro José Maria Aznar, a quem Chávez havia chamado novamente de "fascista". O rei acabaria por abandonar a sala a meio da intervenção posterior do presidente da Nicarágua, que insistia no direito de Chávez a defender-se."Pode estar-se nos antípodas de uma posição ideológica e não serei eu quem está perto das ideias de Aznar, mas ele foi eleito pelos espanhóis e eu exijo esse respeito", dizia Zapatero, enquanto Chávez tentava interrompê-lo (o microfone foi desligado), reclamando o direito à liberdade de expressão.O primeiro-ministro espanhol foi mais longe e exigiu à presidente chilena Michelle Bachelet "um código de conduta num fórum que é representativo dos cidadãos".Daniel Ortega saiu depois em defesa de Chávez.
"Aqui, parece que as intervenções são interrompidas quando não coincidem com a generalidade das opiniões". E, em nome da "liberdade de expressão", deu um minuto do seu tempo ao presidente venezuelano. Que limitou-se a citar José Gervasio Artigas, tido como o "pai" do Uruguai "Com a verdade não ofendo nem temo".Ortega demorou-se a seguir em mais de 20 minutos de acusações à "ditadura global", apoiando o direito de Chávez a defender-se dos ataques de um cidadão espanhol, que não é um cidadão qualquer. Aznar integra o chamado Clube de Madrid, fórum conotado com a direita que tem feito sucessivas críticas às políticas venezuelanas. Ortega fez, ainda, um duro e violento ataque ao que tem sido a conivência dos governos espanhóis com a "ditadura capitalista, globalizada e imperialista" dos Estados Unidos. Mas a crítica às empresas espanholas ecoaram também pela voz do presidente da Argentina, Néstor Kirchner, todos contra o responsável pelo patronato espanhol, que expressou, esta semana, a sua preocupação com a falta de segurança jurídica que existe na Venezuela, Bolívia e Equador.América Latina divididaO que esta sucessão de episódios demonstra é o espartilho em que está mergulhada a América Latina e as profundas divergências políticas dos diversos dirigentes, tão profundas quanto as desigualdades sociais entre e dentro dos próprios países.Carlos Lage, vice-presidente cubano, viria a pôr o acento nas feridas que persistem. Referindo-se ao episódio de Aznar, começou por sublinhar que "ser eleito democraticamente não é suficiente para legitimar um presidente", para de seguida desvalorizar o tom aceso da sessão. "Esta não é uma discussão artificial.
É uma expressão das contradições e do momento que vive a América Latina, com um passado de anos e anos de dominação cultural e económica. Uma região com milhões de pobres e em que há uma contradição entre a necessidade de crescer e a hegemonia de algumas potências".A Declaração de Santiago, que resulta da cimeira que ontem terminou, tenta, de alguma forma, responder ao desafio da coesão social, tema-chapéu dos trabalhos. Além do convénio para a Segurança Social, que permite aos emigrantes reformas por inteiro independentemente de regressarem ou não ao país de origem, os chefes de Estado e de Governo comprometem-se a acções conjuntas nas áreas da saúde, trabalho, educação e investimentos na educação, sociedade de informação, cultura, ambiente, segurança social, habitação, saneamento, turismo, defesa e cooperação.
Fonte da notícia: Jornal de Notícias
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