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domingo, 24 de janeiro de 2010

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Haiti perdido para o vudu e a superstição

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No carro, Ivan, o intérprete, vai aterrorizado. Diz que de lá, para onde vamos, não sairemos vivos. "Ele vai transformar-nos em vacas e depois comer-nos", explica, com gestos enfáticos. E depois relata alguns episódios concretos e objectivos: há dois meses, exactamente à meia-noite, olhou pela janela do seu quarto e viu um cavalo a passar. Viu primeiro a cabeça do animal, e ficou à espera de ver passar o resto do corpo. Como isso não aconteceu, levantou-se de um salto e reparou que o cavalo estava de pé. Pior do que isso: o cavalo, de cavalo só tinha a cabeça. O resto do corpo era humano.


Ivan vai todo o caminho a contar histórias destas, até que chegamos a Léogane. É um bairro algo chique nos arredores de Port au Prince. Mal se sai da cidade, por uma estrada de terra toda esburacada, cheia de pessoas à espera de um eventual autocarro que as leve para o campo, encontra-se o mar. O caminho segue ao longo da costa, junto à água azul-turquesa. É uma espécie de Riviera da capital. Sunny Beach, Bikini Beach, Picnic Beach. Cada uma das estâncias tem um café com esplanada, um hotel, uma praia. Do outro lado da estrada há montanhas, áreas de bananeiras e de cana-de-açúcar.

Léogane é o que as pessoas em Port au Prince chamam uma "zona limpa". É para lá que apetece fugir do inferno da cidade. Mas hoje toda essa mitologia está esquecida. Na últimas duas semanas, Léogane tornou-se famosa por outra razão: é a zona mais próxima do epicentro do terramoto e a que com ele mais sofreu. Calcula-se que, aqui, a taxa de destruição seja de 90 por cento. É difícil encontrar um edifício inteiro.

Há casas luxuosas, na encosta sobre o mar, que sucumbiram como se fossem de areia. Aglomerados urbanos transformados num entulho revolvido e branco. Restaurantes, hotéis, uma universidade, tudo reduzido a estranheza e pó. Pelo estado em ficaram, imagina-se que os edifícios não apenas se desmoronaram, mas foram agitados violentamente, durante horas, já depois de destruídos.

Mas no centro da povoação, junto ao mercado onde as populações desalojadas tentam fazer as trocas que lhe garantam alguns bens essenciais, há um enorme edifício branco que permanece quase intacto. Parece um armazém, ou um silo, mas é a sede da União dos Santos Vudu do Haiti.

No centro do poder

O vudu é a principal religião do país, e Léogane um dos seus principais centros. Ali perto, numa pequena aldeia junto a uma árvore centenária, vive um sacerdote conhecido pelos seus poderes extraordinários.

Segue-se por uma estrada de terra, passa-se a árvore, cujas raízes estão à vista como as rugosidades de um réptil, chega-se à casa do houngan, o sacerdote vudu.

É um pátio, entre barracas e uma construção em adobes de cimento, parcialmente destruída. Há mulheres e crianças deitadas no chão, à sombra de um toldo de palha decorado com papéis coloridos, cães e gatos a comer restos, carne seca a secar num arame, uma rapariga a lavar o cabelo de uma mulher mais velha com uma água de cor vermelha. A um canto, três rapazes tocam tambores, num ritmo repetitivo.

Após uma longa espera, o houngan dá finalmente ordem para que os visitantes entrem.

Chama-se Cloudy (nublado, em inglês), veste uma túnica vermelha e azul e um barrete cheio de brilhantes na cabeça. É um homem de 32 anos, bonito, com ar sereno e solene. "O vudu é uma religião", começa ele por esclarecer. E passa a explicar a função de cada um dos objectos que tem sobre a mesa: a espécie de guizos (ason) com que se chamam os espíritos - os bons e os demónios - formados por um colar de missangas em redor de uma cabaça. O osso, o dinheiro, a garrafa de aguardente. Toda uma parafernália ritualística cuja função é produzir o kanzo, invocando os espíritos, Les Invisibles, ou seja, os Loa, que são as almas dos mortos da família.

Enquanto fala, a terra treme. É uma das duas réplicas do dia, a mais fraca. O houngan nem pestaneja.

Segundo a teologia vudu, os Loa dominam a nossa vida. "Eles, e só eles, podem alterar o nosso destino", diz Cloudy. E o nosso contacto com os Loa é feito através dos sacerdotes, os houngan. Eles chamam os espíritos, trazem-nos à nossa presença, quer seja através da sua mente, quer pela incarnação temporária no corpo de alguém. Além de poderem mudar o destino, os Loa, bem conversados, têm ainda o poder de adivinhar o futuro, transformar, a pedido, os nossos inimigos em zombies, e ressuscitar os mortos. Esta última faculdade exige, porém, algumas condições: que a pessoa tenha morrido há menos de uma hora e que nenhum familiar a tenha chorado.

"Quer que eu chame agora um Loa?", pergunta, solícito, o Hougan. Por que não? Sempre se lhe poderá fazer algumas perguntas.

Cloudy começa a agitar os ason. Bate com o osso em cima da mesa. Deita aguardente no chão (os espíritos gostam de beber álcool, explica). Sopra com toda a força um apito estridente. Espera. Nada. Recomeça: ason, osso, aguardente, apito. Silêncio.

Ouve-se então um ruído, vindo de um buraco no chão, num dos cantos da sala. É um homem a gemer, a fazer ruídos esquisitos. Um homem mais velho, de túnica de seda vermelha e óculos escuros, uma faca numa mão e um osso na outra, sobe até à superfície, a guinchar e a estrebuchar.

A primeira coisa que diz é, em tom de ameaça: "Não vejo dinheiro nenhum! Onde está o vosso dinheiro?"

Como, contra a expectativa da cúpida assombração, ninguém se chegasse à frente com dólares, Cloudy dá explicações: trata-se do corpo do seu pai, possuído embora por um espírito. Um Loa, disponível para entrevistas.

Mas a verdade é que o Espírito se mostra bastante incompetente, e claramente ultrapassado pelos acontecimentos. Estrebucha, grita e anda de um lado para o outro, furioso. Exprime algumas considerações abstractas sobre o quente e o frio e a necessidade de os mortos passarem pelo fogo.

A seguir enfia-se de novo no buraco, para minutos depois dar lugar ao pai de Cloudy, Pierre Sinvillus, 64 anos, sorridente e sem óculos de sol, o que quer dizer que já não está possuído.

Contentes com a libertação de Pierre, pai e filho fazem uma dança. Rodopiam, saltitam, abraçam-se, encostam as nucas e, sem as desunir, dão aos corpos uma volta completa, sempre cantando e agitando os guizos. É um kanzo acrobático para pares que vai trazer aos dois houngan, nos minutos seguintes, a sabedoria dos espíritos. Aí, estarão preparados para responder às perguntas mais difíceis.

É possível melhorar a situação das pessoas no amor e nos negócios, explicam. Curar doenças, prever o futuro e afastar do caminho os inimigos. Quem ousar interferir com os desígnios dos Loa pode, num instante, ser transformado pelo houngan num morto-vivo. Aliás, isto é o mais fácil de fazer. A pessoa fica num estado vegetativo para o resto da vida. Um zombie. "Quer uma demonstração?" (Não a faz porque era preciso pagar adiantado).

"Pague-me já os dólares, e eu faço vir um Espírito que me vai cortar o pénis, e a seguir colá-lo de novo, como se nada tivesse acontecido", continua Sinvillus, entusiasmado e aterrorizando os haitianos presentes. "Estas duas garrafas vão voar e cortar-lhe as pernas..."

Mas o terramoto. Porque aconteceu? Os houngan não sabem. "O terramoto veio de um lugar muito para lá dos espíritos", acaba Cloudy por dizer.

Nas últimas semanas, as pessoas têm procurado os sacerdotes vudu, em busca de explicações, de um sentido para o que aconteceu. "Nós explicamos como se devem sepultar os mortos. Porque os espíritos, uma vez reclamados pela família, com as devidas cerimónias, voltam para os lugares onde viveram. Se foram vítimas de maldade, os espíritos não ficam. Vão para o mar."

Com as suas túnicas de seda e ossos nas mãos, os houngan não são capazes de explicar para onde vão os espíritos das vítimas do terramoto. Recomendam às famílias que visitem quanto antes o seu sacerdote, para que os mortos sejam devidamente reclamados. Para pai e filho, é uma oportunidade de negócio. Para a famílias, a obrigação de evitarem a deambulação de milhares de espíritos zangados.

"Não tivémos tempo de ressuscitar as pessoas", justifica-se Cloudy. "Só tínhamos uma hora".


Fonte: Público

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