History of The World' told through objects
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A rádio BBC começou ontem uma iniciativa extraordinária, que mexeu muito comigo, obcecado que sou por esse assunto: é uma série chamada A History of the World, com programas de 15 minutos cada, feita a partir de cem objetos do acervo do British Musem, narrada pelo curador Neil MacGregor. A ideia é mostrar como a história não escrita pode ser também reveladora sobre as civilizações. O design e o contexto de cada artefato são explicados e, como se originam dos mais diversos cantos do globo, servem para ilustrar temas universais, como na comparação entre peças de culturas simultâneas como a Atenas de Péricles, a China de Confúcio e a Pérsia de Aquemênida. E servem também para mostrar, como diz Macgregor, que nesses objetos há mais que a intenção utilitária; que há a expressão de um prazer pessoal, o qual é a mais direta e duradoura expressão de humanidade.
Eis aqui a lista dos 99 objetos selecionados. O centésimo será uma escolha de ouvintes e internautas, para encarnar o espírito atual.
E aqui você pode escutar e também ver os vídeos (cerca de dois minutos cada) dos programas, dos quais os dois primeiros estão disponíveis.
Recentemente Richard Sennett escreveu sobre isso em O Artífice, mostrando o papel do trabalho manual apurado na história do humanismo, mas pecou ao centrar foco na questão ideológica (os erros do capitalismo, etc e tal). Sempre que vou a museus (como o Britânico, o Louvre, o Metropolitan e tantos mais) me encanto com as alas de "artes decorativas"; e nunca me esqueço do frisson de visitar o Cluny (Paris) pela primeira vez, com seus trabalhos em marfim e esmalte, e os museus japoneses e chineses, com suas porcelanas e espadas. O que me importa é a engenhosidade humana traduzida nesses objetos, a maneira como a solução de desafios técnicos expõe nossa humanidade comum, emanando ao mesmo tempo a visão de mundo de um tempo e lugar específicos. Os teóricos do modernismo arquitetônico erraram feio ao menosprezar os ornamentos em geral como inutilidades "burguesas" ou "alienantes", adendos dispensáveis a um discurso de ostentação ou ilusão.
Na Pousada da Marquesa, em Paraty, há algumas semanas, me deliciando com a variedade de móveis e peças coloniais (peanhas de madeira, luminárias de porcelana, pias de azulejo, cadeiras de vime, tachos de cobre), pensei nessa injustiça bauhausiana quando reparei num relevo de madeira ao lado do piano, um arabesco posto ali apenas para embelezar mais um pouco. Primeiro, qual o problema? Cercar-se de coisas bonitas faz bem ao ânimo e combate o estresse, como se diria hoje. Segundo, quem disse que é um mero detalhe decorativo? Muitas vezes é nesses detalhes que vemos a tradução de uma época, o apreço a um valor importante para quem os criou ou observou. Sim, as coisas falam.
artigo por: Daniel Piza
Fonte: Estadao.com.br
Etiquetas: arte, artefactos, história, objectos