Christmas is an announcement to live with Peace and Joy
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O que se pretende, de facto, com a celebração do Natal?
Pe. Dr. Marcos Gonçalves (MG)- O Natal é a festa do nascimento de Cristo. Deus Todo-Poderoso e Criador nasce, torna-se carne (encarnação), um bebé. E diante de um bebé ninguém tem medo de se aproximar. Nasce na simplicidade de uma manjedoura porque as hospedarias estavam cheias. É este o grande mistério que estamos a celebrar. Mistério de beleza e de bondade que nos deve deixar deslumbrados diante do Menino-Deus, de Deus que se aproximou de cada um de nós. Celebramos Deus que vem e isso não é apenas um movimento mas diz quem é Deus, um Deus presente nas nossas vidas, próximo de cada um de nós.
Ainda que muitas coisas rodeiem o Natal e são bonitas e ajudem a vive-lo, a verdade é que mesmo sem elas, Cristo nasce.
O Natal não é um adorno ou decoração que no final da quadra se mete num caixote ou apenas se tira do caixote quando ao homem lhe apetece e está motivado e tem razões para celebrar porque a vida lhe corre bem. Há Natal não porque o homem quer, mas porque Deus quis nascer no meio de nós. Há Natal não porque tenhamos saúde ou nos apeteça celebrar e decorar a casa, mas porque Deus se aproximou de ti, assim como estás e vives para dar-te uma vida nova, a Vida de Deus. Há Natal não porque tenhamos uma família e estejamos quentinhos e aconchegados, mas porque até no meio da solidão Ele é presença de amor que dá força e ânimo, é companhia.
No Natal nasce Cristo, mas de certa maneira nascemos todos nós para um tempo novo, um tempo para viver os mesmos sentimentos de Cristo, um tempo para reanimar em nós aquilo que realmente somos, filhos amados de Deus. Mesmo para quem não acredita em Cristo acaba por ser envolvimento pelas luzes e pelas tradições, pelos cantares e pela festa, pelos sentimentos de bondade e de paz. E por isso, de certa maneira o Natal toca todo o homem.
Mas o Natal faz de nós, cristãos, anunciadores da feliz notícia: Cristo nasceu. Há tantas más notícias e o homem precisa de receber este feliz anúncio para viver com mais paz e alegria, com a esperança que não desilude. Aproximando-nos de Deus seremos melhores e faremos um mundo melhor. Parece irreal, mas há tantos corações assim, tão bons porque próximos de Deus. A verdadeira alegria é sentir que a nossa existência pessoal e comunitária é visitada e enchida por um grande mistério, o mistério do amor de Deus.
JM - Há quem fale de perda de valores cristãos no nosso tempo, concorda?
MG - Há muitas situações e muitas histórias. Há perda de valores e perda do sentido dos sinais, mas há também luzeiros de esperança. Tenho tido a experiência de confessar pessoas que já não se confessavam há mais de vinte anos. Aconteceu o Natal na vida dessas pessoas. Vejo muita gente que nunca vai à missa e de repente com amigos e conhecidos entra numa Missa do Parto e algo de novo voltou a brilhar no seu coração. No meio dos cantares e bailares, das luzes e dos enfeites nós precisamos de apontar sempre o caminho para Cristo; só o encontro com Ele mudará o sentido da nossa vida. Sempre que no homem exista um sentimento de bem-querer, uma acção de bondade, uma palavra de ânimo, aí está Cristo.
Menino Jesus e Pai Natal
JM - Como encara o “convívio” entre o Menino Jesus e o Pai Natal?
MG - Convido sempre as famílias a fazerem o presépio em casa. A colocarem o Menino Jesus num cantinho da casa. Um cantinho que será sempre uma grande catequese para crianças e também para os adultos. Será sempre um lugar a passar e a visitar. Será sempre um lugar para rezar e maravilhar-se pela presença de Deus que nasce no meio de nós. Através da simplicidade dos gestos e dos sinais podemos viver o Natal. Gosto também do Pai Natal.
É uma figura simpática. Um velhote de barbas brancas a distribuir presentes. Lembro-me de uma noite o ter esperado, escondido na sala, com o meu irmão. Não o vi, adormecemos antes. Faz parte do nosso imaginário. Mas, atenção! Uma coisa são as historiazinhas do Pai-Natal, da Branca de Neve e da Carochinha; e outra coisa é a História da Salvação, de Deus que nasce. Não é um conto de encantar, é a realidade maravilhosa de Deus que nasce no meio de nós.
É nesta história que todos nós entramos e é nesta história de vida que Deus nos encontra e quer caminhar connosco. Colocar tudo no mesmo patamar seria ingenuidade e seria esconder o verdadeiro sentido do Natal. Natal será sempre um espanto, um deslumbramento do homem que admira a visita de Deus.
“Trocar presentes não é consumismo”
JM - O “consumismo” desta época preocupa-o?
PMG - Quando chega o tempo de Advento e Natal fala-se muito do consumismo. Mas, na época de dificuldades para as lojas e empresas e, claro, para as famílias, não sei se o melhor não será mesmo apelar para que consumam. Cada um com as suas possibilidades.
Há certamente exageros e é bom estar atentos para não fazer do Natal apenas isso. Todavia, penso que comprar um presente e trocar presentes não é consumismo. É um gesto de amizade e de carinho, um gesto de presença na vida dos outros. Antigamente matava-se a galinha mais gorda e na festa comia-se melhor. Hoje continua-se a fazer o mesmo, de acordo com o tempo em que vivemos, e tudo isso faz parte também do Natal. Quem serve um jantar ou faz um chá em casa prepara a mesa. Para preparar a mesa temos de ir ao supermercado fazer compras. É a coisa mais natural da nossa vida. O importante é sempre perceber que entre as ofertas dadas e as recebidas, no meio de visitas, nós sejamos presente, presença na vida dos outros. Vejo também na nossa sociedade e na Igreja sentimentos de bondade e de atenção para aqueles mais desfavorecidos. São sinais de esperança, sinais da fé.
O lugar do nascimento de Deus, hoje
JM - Qual acha que seria o lugar, hoje, que Jesus escolheria para nascer?
MG - Cristo nasceu numa manjedoura porque não havia lugar para Ele nas hospedarias. Imagino como foi esse momento dramático em que Nossa Senhora estava para dar à luz e São José, aflito, a bater em todas as portas. E nenhuma porta se abriu. E nenhuma casa deixou entrar Aquele que nasce para que possamos nascer todos.
Cristo continua a nascer. Vai depender de nós onde. Se estivermos fechados e ocupados como aquelas hospedarias, Cristo irá nascer noutro lugar que não a nossa vida e o nosso coração. Se formos como Maria, Cristo nascerá no nosso coração, na nossa família. Onde está o homem, aí Cristo quer nascer para lhe dar vida em plenitude. Vigilantes e atentos escancaremos as portas da nossa existência. Se não abrirmos as portas, Ele vai nascer, vai nascer na mesma, mas não nascerá em ti, nem na tua casa, nem na tua vida. Hoje e sempre Cristo escolhe nascer no teu coração.
JM - Como vive o seu Natal, Pe. Marcos?
Que lembrança especial guarda da infância?
MG - Vivo o Natal preparando as leituras e as celebrações da Missa. Grande parte do dia de Natal é vivido dentro da Igreja.
Da infância, guardo a Festa na família e na Paróquia. Eram as Missas do Parto e o levantar bem cedo..., a Missa da noite de Natal. Recordo-me da igreja cheia de gente, os sinos, o cheiro ao incenso, os acólitos... . Havia também o circo e o cinema com algum filme sobre o Natal, as visitas aos familiares e aos presépios das igrejas.
JM - Como responsável pela Igreja do Colégio, no centro da cidade, qual a mensagem natalícia que pretende deixar às inúmeras pessoas que por aqui passam?
MG - A igreja do Colégio foi construída para trazer esperança. É essa a missão da Igreja na cidade. E a nossa esperança é Cristo. Todo o tempo do Advento, como preparação para o Natal é organizado com tudo aquilo que a Igreja é nos seus sinais, na Palavra anunciada, nos gestos e nas celebrações para que todos se encontrem na Igreja com Cristo. É sempre o convite a fazer o presépio em casa e através dos sinais mais simples e ricos da nossa tradição preparar também a manjedoura do nosso coração para receber o Menino Deus que vai nascer.
Este ano, ainda no tempo de Natal, vamos receber (de 29 Dezembro a 3 de Janeiro) a Imagem Peregrina de Fátima e será, por isso, um tempo de graça para viver a Mensagem de Fátima, a mesma Mensagem do Evangelho.
Santo e Feliz Natal para todos. O Menino Deus nasceu.
“O Presépio é uma escola de vida onde podemos aprender o segredo da verdadeira alegria. Que todos possam encontrar-se com Cristo e voltar para a sua vida com Ele, com os Seus sentimentos, com um olhar sobre a vida, a família, o trabalho, com outros olhos, com os olhos de Deus, com a força de bondade, de ânimo que torna a vida mais digna e mais aberta e mais bela para ser vivida e partilhada.”
Pe. Dr. Marcos Gonçalves, Reitor da Igreja do Colégio e director do Gabinete de Informação da Diocese do Funchal
Vera Luza Fonte:
Jornal da MadeiraEtiquetas: Christmas, Jesus, Menino, Natal, Peace