Nas vésperas do Entrudo, meia dúzia de artesãos agarram-se afincadamente aos formões e às goivas para transformarem um tronco de madeira em máscaras carrancudas.
Sentado num sofá de um improvisado «atelier» onde, por esta altura do ano, passa os seus serões, Adão Almeida, de 46 anos, dá os retoques finais às ventas do diabo. Mais um cornudo.
Desde que começou a fazer caretos, o que aconteceu «meio ano antes de casar, há 25 anos», já esculpiu diabos e senhorinhas - os dois mais tradicionais - um burro, um porco, um boi e até um canguru, entre muitos outros.
Mas é dos belzebus chifrudos de que mais gosta. Se tiver tempo e madeira suficiente, aplica-se para surpreender aqueles que participam no Carnaval de Lazarim.
Uma máscara simples demora «quatro ou cinco serões» a ter a forma final, mas Adão Almeida lembra aquela que fez com «dois grandes sardões na cara, um de cada lado, e no chifre uma sardanisca mais pequena», que lhe ocupou 31 serões, mas lhe rendeu um bom dinheiro. «A média é 250 euros, mas já tive peças aqui por praticamente 500 euros», contou.
O peso é outro dos aspectos a ter em conta, havendo aquelas que chegam aos oito quilos, «dependendo do tamanho do bicho». No ano passado, lembrou-se de fazer uma máscara para a sua neta, com cerca de um ano. «Fi-la muito pequenina, muito trabalhosa e a miudinha lá saiu, toda contente. Têm-na lá guardada em casa, para mim foi uma alegria», afirmou.
Mas não há amor como o primeiro. O artesão não esquece a sua primogénita que, apesar de ter sido esculpida ao sabor da imaginação e de na altura não ver televisão, se assemelhou ao rosto de Álvaro Cunhal.
«Naquele ano apareceu um colega meu com uma máscara de madeira. Já tinha visto algumas vezes mas nunca tinha pegado nelas. Peguei nela, gostei daquilo. Vim para casa e para o ano a seguir tive de fazer uma», recordou.
«Fui para a rua e diziam «olha, é a cara do Álvaro Cunhal», contou, lamentando não a ter hoje consigo de recordação, porque lha roubaram no Porto, no Mercado Ferreira Borges.
José Costa, mais conhecido por Costinha, de 36 anos, teve melhor sorte. Ainda hoje a sua primeira máscara, que fez com doze anos, está exposta na Casa do Povo de Lazarim, ao lado da de um primo seu.
Um diabo com uns cornos tamanho XXL
A ingenuidade do pequeno rosto de criança do primeiro careto contrasta com aquele que está agora a talhar e que promete ver-se ao longe: um diabo com uns cornos tamanho XXL, que medem 70 centímetros.
«Este já é o terceiro diabo que faço cornudo. Comecei com um diabo com 50 centímetros (de cornos), passou para 60 e agora já vai com 70 centímetros de comprimento. E para o ano não sei se não chegará aos 80», avisou.
Todos os anos «tem sido sempre o mesmo cornudo a aguentar» com as máscaras de cornos avantajados, contou, esclarecendo de imediato que o moço em causa, «embora já namore», só será assim cornudo «no dia de Carnaval, com a máscara».
Outro careto saído da oficina de Costinha que promete chamar a atenção é o do agente da GNR. «Já tenho um GNR executado, não vai ser muito bem visto. Vamos ter aí elementos da GNR a tomar conta do trânsito...», disse. Resta a Costinha confiar no ditado que reza «É Carnaval, ninguém leva a mal».
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