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Eles falam, falam, falam, e ninguém os entende. Dos 15 mil habitantes que moram na freguesia do Socorro, na Mouraria, em Lisboa, 11 mil são estrangeiros. Uma autêntica "Babilónia" onde o português parece caminhar para a extinção, engolido por uma miscelânea de idiomas falados por imigrantes oriundos do Bangladesh, Índia, Paquistão, China, países da antiga União Soviética e países africanos muçulmanos.
A Junta de Freguesia mais parece o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, só que com filas menores. "É a primeira porta a que batem. Tenho cada vez mais processos para orientar", afirma o presidente Marcelino Figueiredo. Difícil é ultrapassar a barreira linguística. "Por vezes, não falam uma única palavra de português", acrescenta. Ou se fala em inglês - "língua oficial" da Mouraria - ou através de gestos. Para que nada falte, já se ergueu uma mesquita e a Junta dá aulas de português duas vezes por semana.
Mas, mais interessante do que ver gente a esbracejar freneticamente, é testemunhar hábitos culturais tão diferentes como usar a corda da roupa para secar patos e frangos (chineses), usar os vãos de escada para "estacionar" sapatos (muçulmanos) ou usar os chafarizes do Largo Martim Moniz para lavar rostos e sovacos (todos os que não têm casa de banho, e que não são poucos).
Bia Kanji, paquistanesa radicada há 15 anos em Lisboa, não troca aquele caldeirão de culturas por nada. "Gosto desta agitação", confessa a dona de uma loja de relógios, acessórios e tudo mais acabado em "órios", impregnada de incenso. Porta sim, porta não, vendem-se brinquedos, roupas, quinquilharia e o último grito da moda em electrónica.
Tomé Costa, um cabeleireiro africano que reside na Mouraria há 15 anos, conta que até mandarim já aprendeu a falar. Garante que apesar da diversidade o "convívio até é pacífico". Os seus clientes são sobretudo turistas, mas já há gente criada na Mouraria que gosta do modo como Tomé maneja a tesoura. Leonilde Rodrigues tem mais de 60 anos, metade dos quais passados no bairro, e é cliente da casa. "Faz um corte jeitoso", justifica a idosa que ganha a vida a vender hortaliças. "Gosto de ver isto cheio. Se não fossem eles, isto era uma pasmaceira com velhos", diz Leonilde. "Eu não os entendo, mas com gestos a coisa vai", explica, empenhada em vender mais um repolho aqui e um molho de nabiças acolá.
E não se pense que não há ordem naquele emaranhado labiríntico. Na Rua do Benformoso impera o comércio indiano, paquistanês e do Bangladesh. A Rua dos Cavaleiros é dominada pelos indianos e chineses. Quem estiver à procura de "souvenirs" angolanos, o melhor é aventurar-se pela Calçadinha da Mouraria.
Nas casas, quase sempre exíguas, ninguém sabe quantas pessoas residem. Conta a vizinhança mais abelhuda que dormem em rotatividade. Por vezes, e à falta de divisões, são montadas cortinas para dar a ilusão de privacidade. Encontrar "casinos" também não é difícil. Em ruas tão estreitas, basta seguir o barulho das fichas...
Fonte da notícia: Jornal de Notícias
Nota Pessoal:
Também já fui emigrante e sei como é. A tendência geral é de viverem todos em comunidade, trazendo um pouco da sua cultura, do país de origem, para o local estrangeiro que escolheram para fixar a sua residência. Já muitos países nos abriram as suas fronteiras e agora é a nossa vez de fazermos o mesmo.
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