O líder histórico cubano está afastado do poder há 19 meses por motivos de doença, tendo sido operado aos intestinos em 2006.
Fidel Castro, de 81 anos, está na liderança de Cuba há 49 anos, desde que encabeçou a revolução em 1959 e conseguiu, apesar de quase isolado internacionalmente, fazer o regime sobreviver mais de meio século num ambiente adverso.
Figura incontornável da segunda metade do século XX, Fidel Castro abordou o século XXI sem interromper as suas diatribes contra «a sociedade de consumo» ou o «imperialismo norte-americano», apresentando-se como defensor do «terceiro mundo» contra o «Norte» e dando a impressão de que, para ele, a guerra fria nunca terminou.
No passado dia 20 de Janeiro, o presidente interino e irmão do líder histórico cubano, Raúl Castro, obteve mais votos que Fidel nas eleições gerais, apesar de o «comandante» também ter sido eleito. No próximo dia 24, será designado o Conselho de Estado e o seu presidente, cargo exercido por Fidel desde 1976.
O líder histórico cubano está afastado do poder há mais de um ano devido a doença prolongada, situação que o obrigou a delegar funções no irmão Raúl em 2006. Foi submetido a uma operação cirúrgica, nesse mesmo ano, mas nunca deixou de aparecer, nem de garantir que velava por todas as decisões importantes. Para Fidel, «os verdadeiros revolucionários nunca se reformam», nem quando a doença leva a melhor: agora promete ser um «soldado das ideias», depois de anos à frente dos destinos do país.
Sobreviveu a 9 presidentes norte-americanos, e ao fim de 50 anos de exercício absoluto do poder, sete em cada dez cubanos nunca conheceram outro chefe de Estado.
Ditador inflexível ou humanista revolucionário
Ditador inflexível para os seus opositores, humanista revolucionário para os admiradores, é primeiro que tudo Fidel para os cubanos, quer os que o apoiam, quer os que o combatem, numa quase clandestinidade na ilha ou abertamente no exílio.
Atípico, com a sua barba de antigo guerrilheiro, o seu uniforme, a sua boina e os célebres charutos (até 1985), este filho de um emigrante espanhol que se tornou grande proprietário agrícola foi educado nos melhores colégios de maristas e jesuítas do país.
Só na Universidade aderiu à rebelião, e depois à guerra total, até à sua tomada do poder em 1959, de armas na mão, contra a ditadura de Fulgencio Batista.
Guerreiro inveterado, os seus «mais belos anos» foram, diz ele, os 25 meses de guerrilha na Sierra Maestra (1957-1959), forjando a sua personagem de chefe militar, levado ao pico da lenda anti-imperialista com a sua retumbante vitória na Baía dos Porcos, em 1961.
Apaixonadamente anti-norte-americano, nunca cessou de desafiar «o império» e, de facto, nenhuma das 13 administrações que se sucederam na Casa Branca conseguiu obter dele concessões de monta em 47 anos.
Simultaneamente calculista e exaltado, capaz de cóleras homéricas, permitiu que centenas de milhares dos seus compatriotas tomassem o caminho do exílio, na sua maioria para as costas dos Estados Unidos.
Os opositores não passam, aos seus olhos, de «mercenários» de Washington, passíveis de pesadas penas na prisão.
Ideologicamente arreigado - «Nunca me senti mais próximo de Marx e Engels», disse o ano passado -, Fidel Castro devota ao dinheiro um desprezo feroz e sempre lhe preferiu um igualitarismo duvidoso. Praticamente só com Deus, o antigo aluno dos jesuítas procurou um compromisso: entre o marxismo e o cristianismo.