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A RTP propõe, a partir de hoje, uma visita virtual ao espólio de rádio e televisão. Um moderno portal de Internet, onde se mostram os objectos e os conteúdos – sons e imagem – que fizeram a história destes media em Portugal, é lançado hoje. Mas ainda não existe o museu físico de rádio e televisão, prometido desde o encerramento do Museu da Rádio, da Rua do Quelhas, a 1 de Abril de 2006.
Talvez arranque no segundo semestre deste ano. Mas não como museu, apenas como “colecção visitável”, o que contraria a Lei da rádio, que obriga à sua existência.
A viagem virtual começa no átrio de entrada do edifício da RTP, na Avenida Marechal Gomes da Costa, em Lisboa. A partir daí, as portas abrem-se: “Bem vindo ao Museu Virtual da RTP”, pode ler-se no final da introdução em museu.rtp.pt. O visitante virtual pode escolher a mostra da colecção de alguns dos objectos ligados à história da rádio, ou os da televisão, ou ainda optar pelos conteúdos, onde pode ouvir, no caso da rádio, e ver, no caso da televisão, uma selecção dos sons e imagens que marcaram os 74 anos de rádio e os 52 de televisão.
Se preferir tem ainda acesso, numa das portas virtuais, a entrar na exposição sobre os 50 anos da RTP, percorrendo o espaço onde esta exposição tem estado patente e onde deverá, mais tarde, nascer o espaço físico que acolherá parte da colecção de objectos da rádio e televisão.
Museu prometido há três anos continua por nescerA criação de um museu da rádio e da televisão é prometida desde 2006, quando, depois de 1 de Abril desse ano, o Museu da Rádio, que se situava na Rua do Quelhas foi encerrado, para que a RTP pudesse vender o prédio que o acolhia. Cerca de cinco mil objectos, que representam uma das maiores colecções da Europa sobre história da rádio, foram então empacotados, esperando pela construção de um novo espaço, que teria metade do tamanho do edifício do Quelhas e que seria dividido com a televisão. Mas até hoje o novo museu da rádio e televisão, projectado para as instalações da RTP na Avenida Marechal Gomes da Costa, continua por nascer.
“Tentamos alargar o leque de públicos, a pensar em quem não se desloca ao espaço dos museus. E este é um espaço que permite uma visualização que não é possível directamente”, frisa Pedro Braumann, director do gabinete de estudos e documentação da RTP, responsável pela iniciativa do Museu Virtual, que não quis avançar com o custo deste investimento: “Foram algumas dezenas de milhares de euros”, adiantou apenas.
É o mesmo responsável que explica, sobre a ainda não existência de um museu físico, em paralelo com um virtual, que o novo contrato de concessão do serviço público de televisão obriga apenas à existência de uma colecção visitável: “Um museu obriga a uma série de obrigações com quadro de pessoal, por exemplo, e o contrato de concessão (do serviço público de televisão) apenas obriga a ter uma colecção museológica visitável”, disse, referindo-se à cláusula 20 desse diploma, que fala da “obrigação museológica de ter uma colecção representativa da evolução da rádio e televisão”.
Braumann garante, contudo, que o espólio de rádio e televisão está disponível integralmente para pessoas com interesses específicos, como investigadores.
Crítica à falta de critério científico
Mas Manuel Bravo, conservador do Museu da Rádio entre 1996 e 2004, que enaltece o carácter apelativo deste novo Museu Virtual, lembra outro diploma legal que obriga o contrato de concessão de serviço público de televisão a ir mais longe: “O contrato de concessão de serviço público é da televisão. E o que a Lei da Rádio ainda em vigor obriga, no seu artigo 48, é à existência e manutenção de um museu de rádio”, frisa o antigo conservador, jornalista e ex-director de informação da RDP.
Manuel Bravo questiona ainda a inexistência, entre o espólio “exposto” no Museu Virtual, de material de rádio profissional: “Não vejo aqui gravadores e microfones profissionais. Onde estão as nagras? E o magnetofone K4, dos poucos que existem na Europa? E um telégrafo? Onde está a telegrafia sem fios? De onde vem a rádio? Quem fizer esta visita virtual, cientificamente não fica a saber nada”, alerta o ex-conservador.
Do espólio do museu de rádio ficam ainda esquecidos objectos de carácter mais sentimental, como os estúdios de gravação de teatro radiofónico, que incluíam a caixa de areia que serviu para gravar os passos que iniciam o “Grândola, Vila Morena”. Ou o rádio de António Oliveira Salazar, comprado pelo ditador em 1937 e mais tarde adaptado a gira-discos, porque Salazar não quis gastar dinheiro num novo. Ou a secretária onde Fernando Pessa escrevia em casa, doada pela família.
“Andamos a juntar peças desde 1966. O Museu só abriu em 1992. Foi uma dificuldade para o abrir, lembrou Manuel Bravo ao PÚBLICO em 2006, numa visita guiada ao Museu da Rádio, já depois de ter fechado as portas.
Museus virtuais complementam
Rogério Santos, docente da Universidade Católica, investigador, com várias obras publicadas sobre a história da rádio e autor do blogue Indústrias Culturais, defende que os museus virtuais deviam ser um complemento e lembra que, apesar de promoverem uma maior acessibilidade, não promovem a investigação da história dos “media”: “É um erro transformar a coisa física numa realidade virtual e não quer dizer que se esteja a promover a investigação. Este tipo de museus deviam ser exclusivamente um complemento”, diz, lembrando a promessa da RTP de criar um museu da rádio e televisão após a venda do edifício do Quelhas.
António Nabais, museólogo, presidente da Assembleia Geral da Associação Portuguesa de Museus, frisa o valor do espólio de rádio português: “É um património riquíssimo, que a Alemanha ou o Reino Unido perderam com a II Guerra Mundial. Não devia estar encaixotado. Temos objectos únicos no mundo. Nós todos temos direito a esse património. Pagámos para o erguer e pagámos para o destruir”, defende o especialista.
Sobre o modelo de museu virtual, Nabais frisa as vantagens, mas diz que não chega: “O virtual é muito bom, é uma boa forma de divulgar, mas só tem sentido quando não temos nada. Neste caso devia ser complementar de um espaço físico. Estamos a assistir ao encerramento de museus, como o caso do da Rádio, do de Arte Popular, do Museu do Vinho de Alcobaça. Estamos a empobrecer o país. Este é um sinal de empobrecimento, não podemos só preocupar-nos com os bancos que estão a falir. E aqui não consta que a Polícia Judiciária se tenha preocupado com o Museu da Rádio.”
Fonte:
Público.pt
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