tag:blogger.com,1999:blog-22781205.post7373056071432522681..comments2023-10-04T14:24:47.010+00:00Comments on Galeriacores Cartoon Notícias: No corpo erradoJorge M. Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/07398876359916088463noreply@blogger.comBlogger4125tag:blogger.com,1999:blog-22781205.post-24578767204744220722010-02-01T17:36:08.884-01:002010-02-01T17:36:08.884-01:00Obrigado amigo Bisturi pela partilha deste excelen...Obrigado amigo Bisturi pela partilha deste excelente texto sobre esta temática aqui em destaque.<br />É razão para dizer que nada neste mundo é perfeito,longe disso, todos cometem erros até mesmo a natureza.Jorge M. Gonçalveshttps://www.blogger.com/profile/07398876359916088463noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-22781205.post-6273834286273214252010-01-31T21:21:28.898-01:002010-01-31T21:21:28.898-01:00continuação 3...
Guardado o segredo que só a mim...continuação 3...<br /><br /><br />Guardado o segredo que só a mim importava, continuei a atender regularmente a Ermelinda e, a partir dos seus dezoito anos, verifiquei que começava a dar-se um milagre. Lenta, mas gradualmente, a profundidade da vagina começou a aumentar e não tardou a ultrapassar os seis centímetros bem medidos. A princípio não queria acreditar, depois tentei arranjar, nas horas de meditação científica, uma explicação qualquer para o fenómeno de que não tinha notícia pela literatura médica. Finalmente, pensei que se era grande a minha perplexidade perante o acontecimento a que assistia qual seria a de quem não tivesse conhecimentos médicos e fosse posto perante o mesmo problema. Um engenheiro mecânico, por exemplo. Foi então que a luz me entrou cá dentro e a explicação possível se tornou quase evidente.<br /><br />Na consulta seguinte, embora receoso de que a minha teoria caísse por terra e tivesse de voltar a baloiçar entre a meditação e a leitura científica, quase não aguentei que surgisse o momento oportuno para lhe perguntar se tinha vida sexual e se as coisa corriam bem.<br /><br />- Às mil maravilhas! No princípio custou um bocadinho, mas é normal, não é?!<br /><br />Senti a enorme tranquilidade de quem chega em segurança depois de uma viagem agitada, o prazer de ter lido nos seus olhos a alegria de ser mulher e respondi-lhe que sim, enquanto pensava que me vira liberto da proposta de alongamento cirúrgico da vagina que andava para lhe fazer há mais de um ano e para a qual ainda não encontrara nem ocasião, nem coragem.<br /><br />Abençoados estes vigorosos tuneleiros nacionais que simplificam a vida atormentada do médico, tornam dispensáveis técnicas sofisticadas de reconstrução ginecológica e são capazes de fazer de um homem uma mulher feliz.<br /><br />Lima Reis, Chefe de Serviço de Endocrinologia dos Hospital de S. João, Professor Convidado de Patologia e Dietoterapia da FCNAUP<br /><br />Este artigo consta do nº 20 - Jan-Fev 2002 - de Mundo Médico.bisturihttps://www.blogger.com/profile/12320975250397927505noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-22781205.post-13184121154107289832010-01-31T21:20:20.473-01:002010-01-31T21:20:20.473-01:00continuação 2...
O enigma é de fácil decifração. ...continuação 2...<br /><br />O enigma é de fácil decifração. As células destes organismos esquisitos, pura e simplesmente, não dispõem de receptores para a testosterona, potente hormona formadora de homens (androgénio, como lhe chamamos quando queremos que muito pouca gente nos perceba) e ignoram as suas ordens bioquímicas. Assim, o destino da hormona sem cais de atraque é, após reciclagem apropriada, transformar-se em estrogénio que tem acção tipicamente feminizante.<br /><br />Dado que a doença é rara, um caso em cada cinquenta mil nascimentos, como afirmam os entendidos, pode passar-se uma vida sem conhecer um destes caprichos da natureza. No entanto, talvez pelo meu imenso desejo de ser confrontado na prática com a doença que sempre me apaixonou, tive oportunidade de seguir cinco deles.<br /><br />O primeiro foi o da Ermelinda, que conheci com oito anos de idade. A precocidade do diagnóstico explica-se porque tinha uma irmã, ou melhor, um irmão, com a doença e, num dos grandes lábios, o que, à primeira vista, parecia ser uma hérnia inguinal. Não era. Tratava-se de um dos testículos a procurar o seu local de destino. O outro não se deu ao trabalho e quedou-se descansadamente pelo «bas fond» do abdómen. A remoção cirúrgica de ambos foi feita no ano seguinte por razões cosméticas e também profilácticas. Isto porque o testículo fora da sua morada própria está continuamente sujeito a temperaturas superiores às indicadas no seu manual de utilização e torna-se vulnerável à implantação e florescimento de tumores malignos.<br /><br />Esperei pacientemente pela idade em que deveria iniciar-se a puberdade da minha doente para, eu próprio, num passe de mágica terapêutica, lhe dar o toque feminino final, prescrevendo-lhe estrogénios. Os seios desenvolveram-se rapidamente e a Ermelinda ficou, como é costume, uma belíssima mulher de corpo escultural. A profundidade da vagina, que não excedia os três míseros centímetros, é que era um problema. Os outros, e eram muitos, tinham ficado pelo caminho e foram sendo aceites como fatalidades sem remédio. A ausência de pêlos, a inexistência de períodos menstruais e a impossibilidade de conceber já nem sequer eram motivos de conversa durante a consulta.<br /><br />A questão da sua identidade, que resultaria da discussão infrutífera sobre o alinhamento nos grupos cor-de-rosa ou azul-bebé e dos dados científicos extravagantes que lhe serviriam de base ficou comigo, porque, se se levantasse, só poderia resultar de uma atitude de exibicionismo médico a que sou avesso e seria tão inútil como perniciosa. É que isto de dizer a alguém que nasceu sem apêndice ventral, brincou com bonecas, jogou à macaca, aprendeu ponto de cruz, curte os Excesso e sonha com o vestido de noiva espampanante dos finais felizes das telenovelas mexicanas, que, por acaso, até deveria ser homem, equivale a destruir uma vida e destruir uma vida é crime.<br /><br />continuabisturihttps://www.blogger.com/profile/12320975250397927505noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-22781205.post-51512870892366153932010-01-31T21:19:12.106-01:002010-01-31T21:19:12.106-01:00Caro amigo cá vai uma história vivida por alguém q...Caro amigo cá vai uma história vivida por alguém que se depara algumas vezes com estes casos clínicos.<br />São os pediatras e os endocrinologistas que mais vezes deparam com situações destas...<br />Vale a pena ler... uma delícia de escrita...<br /><br />"O estranho caso do testículo desautorizado<br /><br />Digam-me o que disserem, para quem já teve de ler a descrição da origem e consequências de centenas de males que nos afligem, quer por dever de formação, quer por necessidade de informação, não há dúvida de que a mais apaixonante das doenças, porque intriga e desconcerta, é a que ainda há bem pouco vinha descrita nos livros com o nome de testículo feminizante.<br /><br />A designação, admito, assenta-lhe como uma luva.<br /><br />O que se passa é que estes seres, gerados com informação genética suficiente para obrigar a diferenciação sexual masculina, acabam por vir ao mundo com aparência externa feminina e, desde logo, com direito a roupinha cor-de-rosa: touca, casaquinho e carapins incluídos. No entanto, escondidos no abdómen, ou aflorando à virilha, lá estão dois testículos funcional e morfologicamente normais, mas incapazes do exercício cabal das funções que lhe foram confiadas.<br /><br />No decurso do desenvolvimento, tal como seria de esperar dada a presença do muito macho cromossoma Y, a estrutura embrionária primitiva, que também admite ser ovário se tiver informação diferente, é obrigada a diferenciar-se em testículo. Mercê desta presença autoritária, não há desenvolvimento nem do útero, nem das trompas, nem do ovário, nem da parte superior da vagina. Porém, quando seria de esperar que o testículo cumprisse o dever biológico de virilizar o seio uro-genital e de fazer aparecer o que dá direito a roupinha azul completando o processo iniciado, constata-se que a sua vontade, por mais que tivesse sido gritada na profundidade das entranhas, não foi cumprida. Isto é, assiste-se à completa desautorização do comando testicular.<br /><br />Assim, como quando não há pressão hormonal para que se gere um homem ou o organismo se está nas tintas para ela, a diferenciação se faz sempre no sentido feminino, o segmento do embrião encarregado da emissão do bilhete de identidade condescende na formação de grandes lábios, vulva e vagina curta e cega porque, como vimos, lhe falta a parte superior. Esta fatalidade embriológica leva a repensar o Génesis e a admitir que Deus criou a mulher e, vendo que isso era bom, dela tirou o homem para que houvesse à face da terra quem visse do mesmo modo.<br /><br />Mas voltemos ao caso. Temos portanto um menino, criado pelos progenitores como uma menina, dada a sua inconfundível aparência externa e, se ninguém descobriu antes que algo de errado se passava, quando a puberdade chegar e o testículo desatar a produzir testosterona em quantidades industriais, contrariamente ao que seria de esperar, os seios começam a desenvolver-se e o pêlo axilar e púbico não aparecem. As mães acabarão por trazer à consulta as suas meninas peladas porque a menstruação tarda e a preocupação toma forma e ganha voz. No entanto, quer queiramos, quer não, os pêlos não surgirão e a menarca não aparecerá nunca. Pouco nos resta senão seguir a natureza e, caso o doente deseje uma vida sexual activa, uma das possibilidades será pedir a um ginecologista que faça um alongamento vaginal.<br /><br /><br />...continuabisturihttps://www.blogger.com/profile/12320975250397927505noreply@blogger.com